Atualmente muito se fala sobre a agricultura orgânica e seus benefícios em comparação com a agricultura comum. Quando falamos da produção de alimentos, os benefícios são muito claros, e isso se deve a divulgação e popularidade que cresce cada vez mais. Entretanto no caso do cultivo orgânico de algodão, apesar do método de agricultura orgânica possuir uma vantagem enorme em relação a agricultura convencional, não há muito conhecimento sobre seus benefícios.
Apesar de o algodão não ter seu consumo voltado para o setor alimentício, isso não impede que sua produção tenha um impacto muito negativo em um contexto geral. Entenda um pouco sobre a produção do algodão convencional e do algodão orgânico e quais os impactos gerados por cada uma.
Quais as diferenças entre a agricultura normal e orgânica?
As lavouras convencionais são muito agressivas tanto para o ambiente, quanto para os agricultores e animais. Surpreendentemente no caso do algodão esses impactos são ainda piores, pois são as produções que mais utilizam agrotóxicos no mundo. Justamente pelo fato de não ser um produto alimentício, os agricultores acham que não há problema em usar altas doses de pesticidas. Esse comportamento reflete na própria saúde, uma vez que cerca de 250 mil agricultores adoecem a cada ano mundialmente.
No cultivo do algodão orgânico não há uso de pesticidas, as pragas são combatidas através de espécies predatórias benéficas ou com outra planta que possa ser atrativa aos insetos. No caso das ervas daninhas, elas são retiradas de forma manual tornando os agrotóxicos dispensáveis, preservando assim a saúde dos agricultores. Esse método requer mais pessoas para trabalhar e isso contribui para a geração de empregos. Além disso esse modelo colabora para o comércio justo (fair trade), que é baseado na relação correta dos trabalhadores que fazem parte da produção. Essa vantagem merece destaque maior em relação a agricultura convencional, onde ainda é comum encontrar mão-de-obra semiescrava.
Um estudo baseado nos produtores dos principais países cultivadores de algodão orgânico no mundo (Índia, China, Turquia, Tanzânia e EUA), mostrou que a utilização do método de produção do algodão orgânico pode diminuir consideravelmente os impactos ambientais em comparação ao cultivo convencional. O fator que define isso é a redução em consumo de água, emissão de gases, acidificação, eutrofização e a necessidade de energia primária. Somando todas essas reduções a produção de algodão orgânico se mostrou 46% menos provocadora ao aquecimento global.
Outro benefício do algodão orgânico é a preservação da saúde do solo, que se deve à utilização do sistema de rotação de culturas. A rotação de culturas é uma prática que se baseia na alternação de espécies plantadas, para que não sejam esgotados todos os nutrientes do solo. Dessa forma não há a necessidade de utilizar fertilizantes sintéticos, o que contribui para a diminuição de consumo de água.
Cultivo do algodão orgânico no Brasil
No Brasil a agricultura orgânica como um todo está ganhando espaço. Apesar de sua produção e comercialização ainda serem pequenas, cenário que engloba toda a produção orgânica, não só de algodão.
Grande parte do cultivo de algodão orgânico nacional está concentrada na região do Nordeste, na região semiárida. Em Campina Grande (PB) há maior destaque por conta do seu grande desenvolvimento.
Indústrias Conscientes
Para acompanhar esse comportamento ecológico, as indústrias têxteis estão adaptando seus processos de fabricação e dando preferência às matérias-primas ecologicamente corretas (como o algodão orgânico) para reduzir a poluição. Isso abrange inclusive a indústria da moda, algumas marcas já utilizam esse material em suas peças.
É necessário que essa consciência seja cada vez maior e esteja mais enraizada na cultura das indústrias, que devem buscar não somente por essa alternativa, mas também outras atitudes sustentáveis para diminuir os impactos negativos no ambiente.
Os impactos da produção no consumidor e no meio ambiente.
Quando se usa o algodão comum no processo de tecelagem, tanto quando se faz a lavagem das fibras, quanto no tingimento, ocorre a introdução de resíduos tóxicos. Estes resíduos são liberados posteriormente e caso não sejam tomadas as medidas corretas de segurança, trazem malefícios à saúde e ao meio ambiente. Além disso esses resíduos se soltam durante as lavagens, ao suar ou tomar chuva, e a pele ao ter contato com essa substância pode desenvolver irritabilidade. Essa irritabilidade é potencializada no caso de crianças, ainda mais recém-nascidos, que possuem a pele 5x mais fina que os adultos.
No caso de roupas orgânicas não há esse problema, elas são livres de toxinas (são antialérgicas). Isso ajuda a preservar o contato com a pele e sendo muito mais indicadas para vestir crianças e recém-nascidos principalmente.
Em relação ao processo de produção de tecido orgânico, o uso de corantes também é sustentável, devem ser utilizados corantes naturais, derivados dos pigmentos naturais de cascas de árvores, raízes e folhas, que proporcionam uma coloração mais viva. Atualmente essa prática possui um desenvolvimento maior para que haja mais opções de cores.
Ao buscar por roupas orgânicas é preciso se atentar não somente se o algodão é orgânico, mas também se não há uso de substâncias químicas no tingimento. Para estar dentro do conceito ecológico as indústrias devem utilizar tintas sem metais pesados em qualquer roupa. A água utilizada pelas indústrias nesses processos também é reutilizada e tratada, o que colabora para a redução de desperdício de água.
Podemos perceber que há um grande esforço das indústrias para se tornarem mais conscientes e diminuir os impactos negativos que suas atividades acarretam no meio ambiente, por isso não podemos fechar os olhos e ignorar os produtos orgânicos que possuem a finalidade de melhorar nossas vidas e o meio em que vivemos. Para que seja possível o surgimento de novas soluções ecológicas, é preciso que haja também a aceitação e demanda do público. A conscientização deve ser praticada de todos os lados.