O MIP (Manejo Integrado de Pragas) pode ser um grande aliado dos agricultores no controle de pragas e doenças. Esse sistema contribui para manter a população de pragas em níveis que não gerem perdas e contribui para a diminuição do uso de agrotóxicos.
Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa Oliveira, pesquisadores da Embrapa Soja
É compreensível que o agricultor identifique como inimigos todos os insetos que circulam entre as plantas da sua lavoura e deseje eliminá-los. Mas nem todos eles são pragas. Na verdade, alguns são bons amigos e auxiliam o produtor no combate aos verdadeiros vilões da lavoura, alimentando-se deles ao parasitá-los ou predá-los.
O uso excessivo e indiscriminado de agrotóxicos mata os vilões, mas também pode matar os amigos do produtor e deixa a lavoura exposta a uma nova infestação, normalmente pior que a inicial. Para evitar que isto aconteça, a Embrapa recomenda utilizar as técnicas do Manejo Integrado das Pragas (MIP), usando estratégias que preservam os inimigos naturais dos insetos-praga. Estas estratégias aliam o controle cultural e biológico ao controle químico (agrotóxicos), quando este se faz necessário. Elas economizam recursos financeiros e reduzem o impacto ambiental, dada a utilização criteriosa de inseticidas. E, mais importante do que isto, sem afetar a produtividade.

Estudos realizados pela Embrapa e pela Emater PR sinalizaram que controlar percevejos e lagartas da soja utilizando as técnicas do MIP poderia economizar, anualmente, cerca de US$ 180 milhões no Paraná, ou US$ 1 bilhão se utilizado na área total (36 milhões de hectares) cultivada com a oleaginosa no Brasil. Tal procedimento beneficiaria o agricultor com o aumento da margem de lucro em, aproximadamente, R$ 125,00/ha/ano.
O sucesso do MIP exige dedicação e presença constante do agricultor na lavoura para quantificar a ocorrência das pragas, a fim de intervir no momento oportuno para controlá-las. Vale salientar que ao se fazer presente, o agricultor monitora, também, a presença ou ausência de doenças, plantas daninhas e problemas nutricionais na lavoura. Essa é uma das razões da frequente observação de maiores produtividades em áreas onde se realiza o monitoramento.
Para um controle mais efetivo, o MIP deve realizar-se conforme as recomendações técnicas da Reunião de Pesquisa de Soja do Brasil. O segredo do sucesso do MIP consiste em monitorar a população de pragas presentes nos diferentes estádios de desenvolvimento da lavoura, observando-se os níveis de ação preconizados pela pesquisa (média de 2 a 20 lagartas/metro linear, dependendo da espécie e da fase da cultura e de 1 a 2 percevejos/metro linear após a formação de vagens, nas lavouras destinadas à produção de sementes ou grãos, respectivamente).
Pulverizações calendarizadas de inseticidas e fungicidas deveriam ser evitadas, pois, nem sempre na data estabelecida faz-se necessário o tratamento. Fora do momento adequado, elas desconsideram o benefício da tolerância da lavoura, oneram o custo e reduzem a mortalidade natural dos insetos-praga, por matarem seus predadores, parasitoides e patógenos (principalmente fungos). A grosso modo, em comparação à saúde pública, elas corresponderiam à administração massiva de antibióticos em uma determinada população humana, sem a realização de exames para constatação de infecção.
Referências: https://blog.aegro.com.br/manejo-integrado-de-pragas/
Imagem: https://forbes.uol.com.br/last/2018/07/brasil-deve-plantar-recorde-de-soja-em-1819/